Brasileiro
enfim consegue afastar fantasmas e ultrapassa pela
primeira vez na carreira a marca dos seis metros.
Recordista mundial, francês Renaud Lavillenie
leva a prata
A
voz tranquila podia até disfarçar à primeira
vista, mas Thiago Braz travava uma guerra
constante contra sua mente. Bem antes desta noite,
o medo de fracassar vinha sendo a maior armadilha,
na qual ele caiu algumas vezes. Mas quis o destino
que a confiança viesse no momento e no local
certos, justo diante da maior pressão de toda sua
vida. Aquele menino inseguro, abandonado na
infância pela mãe, acabou acolhido de forma
calorosa pela torcida do Engenhão. Foi mágico
ver o jovem de Marília superando o sarrafo como
se estivesse respondendo a quem duvidou. Enterrou
todos os fantasmas e se reinventou saltando
impressionantes 6,03m para levar a medalha de
ouro, com direito a novo recorde
olímpico.
A
conquista teve doses extras de emoção. O ouro
só veio no último salto. Pela primeira vez
passou a marca de seis metros (o primeiro atleta
do continente a fazê-lo, estabelecendo o novo
recorde olímpico). Viu o até então campeão
olímpico e recordista mundial indoor, o francês
Renaud Lavillenie, sucumbir com cara de espanto e
levar prata com 5,98m. O bronze ficou com o
americano Sam Kendricks, com 5,85m
A pressão parecia um fantasma a acompanhar o brasileiro nas grandes competições. Quando não havia torcida ou câmeras por perto, ele brilhava. Melhorava as próprias marcas, ampliava o recorde sul-americano. Criava expectativa em todos e depois se frustrava. No Pan de Toronto, zerou todos os saltos. No Mundial de Pequim, um mês depois, ficou em apenas 19º lugar e não passou à final. No Mundial indoor de Portland, no início deste ano, acertou apenas um salto e deu adeus precocemente. O próprio Lavillenie colocou em xeque sua capacidade de vencer.
No Rio,o cenário trouxe outras tensões. Antes da prova, um forte vento balançou as bandeiras expostas na cobertura do Engenhão. Após 10 minutos do início da competição, uma pesada chuva tratou de interrompe-la e adiar a final. Como se não bastasse, o equipamento que muda a altura do sarrafo voltou a dar problema, e a prova foi novamente paralisada. Thiago esperou duas horas para dar seu primeiro salto.