Lula
deixa a prisão política em Curitiba, agradece a militantes e
critica Lava Jato
Em
discurso, ex-presidente fez críticas ao que
chamou de 'lado podre do Estado brasileiro, da
Justiça, do Ministério Público, da Polícia
Federal e da Receita Federal'
O
ex-presidente da República Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) deixou a prisão em Curitiba
após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF),
na sexta-feira (8/11).
Ele
– que estava preso desde 7 de abril de 2018 na
Superintendência da Polícia Federal (PF) –
saiu do local por volta das 17h40 e fez um
discurso no qual agradeceu a militantes que
ficaram em vigília por 580 dias, dizendo que eles
eram "o alimento da democracia que eu
precisava para resistir à canalhice que lado
podre do Estado brasileiro, da Justiça, do
Ministério Público, da Polícia Federal e da
Receita Federal".
Condenado
em duas instâncias no caso do tríplex no
Guarujá, no âmbito da Operação Lava Jato, Lula
cumpria pena de 8 anos, 10 meses e 20 dias. Agora,
o juiz Danilo Pereira Jr. autorizou que Lula
recorra em liberdade.
Em seu
discurso ao deixar a prisão, Lula:
Agradeceu
a seus apoiadores que durante 580 dias ficaram perto
da sede da PF em Curitiba; disse que "lado podre
do estado brasileiro, da Justiça, do MP, da PF e da
Receita trabalharam para tentar criminalizar a
esquerda, o PT e o Lula";
Criticou o
procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato
no Paraná, e o ex-juiz da operação, Sérgio Moro,
atual ministro da Justiça;
Afirmou
ter "vontade de provar que este país pode ser
muito melhor na hora em que tiver um governo que não
minta tanto quanto o [presidente Jair] Bolsonaro pelo
Twitter";
Apresentou
a namorada, a quem se referiu como
"companheira", dizendo: "Vocês sabem
que eu consegui a proeza de, preso, arrumar uma
namorada, ficar apaixonado e ainda ela aceitar casar
comigo – é muita coragem dela";
Antecipou
que viajaria a São Paulo e que "depois as portas
do Brasil estarão abertas para que eu possa percorrer
este país".
Nesta
quinta-feira (7/11), por 6 votos a 5, o STF decidiu
derrubar a possibilidade de prisão de condenados em
segunda instância, alterando um entendimento que
vinha sendo adotado desde 2016.
A
maioria dos ministros entendeu que, segundo a
Constituição, ninguém pode ser considerado culpado
até o trânsito em julgado (fase em que não cabe
mais recurso) e que a execução provisória da pena
fere o princípio da presunção de inocência.
Período
de Lula na prisão
Lula
ficou preso em uma sala especial – garantia
prevista em lei – de 15 metros quadrados que
fica no 4º andar do prédio da PF em Curitiba. O
local tem cama, mesa e banheiro de uso pessoal. A
Justiça autorizou que o ex-presidente tivesse uma
esteira ergométrica na sala.
O
ex-presidente tinha os requisitos necessários
para progredir para o regime semiaberto. A
progressão é permitida a quem já cumpriu 1/6 da
pena – no caso de Lula, a marca foi atingida em
29 de setembro deste ano e, segundo o Ministério
Público, também leva em conta outros aspectos,
como bom comportamento.
A
defesa de Lula, porém, disse ser contra o
ex-presidente passar para o regime semiaberto,
porque espera a absolvição.
No
semiaberto, o condenado tem direito a deixar a
prisão durante o dia para trabalhar. A
progressão, no entanto, ainda não tinha sido
analisada pela juíza.