Para
assumir em público, o fetiche de se vestir como o
sexo oposto, o crossdresser Max Costa encara o
preconceito da sociedade e a discriminação da
família. Saiba mais sobre sua trajetória de vida

Andar
pelas ruas da capital mineira ao lado do mecânico
Max Costa, 38 anos, não é uma tarefa fácil.
Isso porque no alto de seus 1,83 m bem
definidos, se acrescentam mais 15 centímetros
de salto, além de modelitos e acessórios
femininos para lá de ousados.
Ele se transforma
em uma verdadeira atração. Não tem quem não
olhe. Algumas pessoas até arriscam comentários
discretos. Se ele se importa? Não.
“Venci o
preconceito e assumi minha verdadeira
identidade", diz Max, que desde os 12 anos de
idade se descobriu como crossdresser - definição
de homem ou mulher que se veste como o sexo oposto
apenas como fetiche sexual.
Apesar
do visual um tanto inusitado, Max garante que não
sente atração por homens e que já teve algumas
namoradas: “Uma delas não se incomodava de sair
em público comigo vestido de mulher. Outra me
propôs que só namoraria se eu vestisse roupas
femininas apenas dentro de casa. Claro que não
aceitei”.
O
gosto excêntrico surgiu ainda garoto, quando Max
começou a usar as roupas e os sapatos da irmã
mais velha. “Sempre que ela saía eu aproveitava
para experimentar algumas peças. Até que ela
começou a perceber que algumas roupas como
calcinha e sutiã estavam desaparecendo do seu
armário”, brinca. Para ele, se vestir de mulher
é uma realização, um fetiche que lhe traz
sensação de liberdade e bem estar.
Em
seu armário, vestidos tubinho, colans,
minissaias, e, é claro, as tradicionais peças
íntimas femininas, que não podem faltar. “Quase
não uso cueca, e, às vezes, mesmo usando
macacão de mecânico, coloco sutiã”. Em uma
ocasião, uma colega de trabalho lhe deu um
abraço e estranhou quando passou a mão em suas
costas. “Ela ficou chocada ao sentir as alças
do sutiã”.
Para
acertar nas medidas, Max conta com a ajuda de uma
costureira, que ajusta ou faz modelos exclusivos
para ele, de acordo com suas encomendas. Com relação
aos biquínis, ele manda fazer o bojo para dar
enchimento nos seios.
Suas estampas preferidas são
as de onça ou coloridas, e como acessórios,
gosta de usar brincos grandes de pressão,
pulseiras e bolsas. Mas sua grande paixão são
mesmo os sapatos. “Tenho uma coleção de
Melissas, de todos os modelos, e gosto muito de
sandálias com o salto anabela. Não curto muito
rasteirinhas”, explica.
Quando vai aos shoppings ou feiras para comprar
roupa, sempre surpreende os vendedores. “Em um
dos poucos dias em que estive vestido de homem, e
saí para fazer compras, quando a atendente
perguntou se era para minha namorada, disse que
era para mim. Ela achou que era pegadinha”.
O dia a dia
de Max é sempre inusitado. Com acontecimentos que
variam desde motoristas de ônibus parando o
veículo para convidá-lo a subir, até cantadas
de pedreiros. Certa vez, um motorista se distraiu
olhando para o Max Costa e chegou a bater o carro.
“Levo tudo numa boa. Sei que minha aparência
foge do tradicional e chama a atenção das
pessoas”.
Apesar de dispensar maquiagem, não ir
à manicure e de usar cabelo bem curto, Max é
vaidoso e malha todos os dias. Sempre vestido de
mulher. “Os alunos novatos estranham quando me
veem no banheiro masculino, mas depois que me
conhecem, ficam 'de boa.
Apesar
de bem resolvido, Max conta que o maior
preconceito que sofre é dentro de casa. Ele mora
com a família no bairro de Lourdes. O pai,
ex-militar, e a mãe, não aceitam seu estilo de
vida. “Na minha casa só uso roupa de homem.
Minha família já me levou a psicólogo,
psiquiatra e até em centro espírita. Não
entendem que o fato de me vestir como mulher não
significa que sou doente”.
Para o
psicólogo Luiz Claudio Araújo, não existe nada
errado em ter fetiches. “Um crossdresser é
apenas uma pessoa que, em seu íntimo, tem o
desejo de expor sua feminilidade. Não se
diferencia da menina que quer ser uma barbie, do
jovem com estilo gótico, das funkeiras que querem
mostrar o corpo, por exemplo”.
Para ele, o fato
de um homem se vestir de mulher provoca espanto e
até repulsa na sociedade, por conta do machismo
existente. Mas ressalta: “Os conceitos de
masculinidade vão além do estereótipo externo.
Nem todo homem que veste roupa masculina é
heterossexual, e vice-versa.O que assusta é
quando alguém coloca em evidência aquilo que
muitos gostariam de ser e não têm coragem de
expressar”.



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